Quaresma é tempo de voltar-se para Deus de todo coração
Meu pai, Sérgio Abib, foi um vicentino fervoroso que se dedicou inteiramente aos pobres. Ele os chamava de “meus pobres!”. Mamãe tinha ciúmes e até dizia: “Você cuida mais dos seus pobres do que da sua família!”.
Certa vez, mamãe chamou a minha irmã, Maria: “Minha filha, o seu pai tem outra mulher”. Maria disse: “Mãe, não é possível!”. Ela disse: “Todas as vezes que começa a ameaçar chuva, seu pai pega a bicicleta e volta bem depois de passar a chuva”.
Minha irmã começou a observar e viu que era verdade. Ficou aquela grande interrogação. Papai faleceu muito cedo, aos 63 anos. Na Missa de sétimo dia, muita gente veio cumprimentar e nós vimos a minha mãe chorando demais. As pessoas pensavam que ela chorava por causa dos cumprimentos e lembranças do meu pai, mas minha mãe percebeu a realidade: a Igreja estava cheia de pobres de quem meu pai cuidava. As pessoas diziam: “Dona Jozefa, eu agradeço muito, porque o senhor Sérgio, todas as vezes que ameaçava chuva, ele vinha para a minha casa para arrumar o telhado, porque prometeu consertar e não tinha conseguido ainda, daí ele colocava plástico e dava um jeito, depois arrumava o telhado.
Minha mãe entendeu o que tinha acontecido. Não era outra mulher, mas os muitos pobres da Conferência Vicentina que ele atendia com todo o coração. Você imagina o arrependimento da minha mãe! As evidências eram grandes, e meu pai não dizia nada, mas viveu o Evangelho: “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente” (Mateus 6,3-4).
Jesus deu ao amor o nome de caridade, pois vem do poder do Espírito Santo, é um dom, um presente. O Senhor quer nos batizar nesse amor, para que a nossa sensibilidade tire de dentro de nós o amor verdadeiro, um amor que é doação, serviço e entrega; amor que, muitas vezes, é sacrifício, é esquecer-se de si, perder por causa dos outros.
Quaresma é tempo de voltar-se para Deus de todo coração. É um tempo privilegiado de penitência e conversão, em que o Pai está de braços abertos esperando cada um dos seus filhos. Penitência que não é só mortificação, nos abstermos dos alimentos, mas, acima de tudo, do pecado; buscar uma vida mais santa.
Jesus nos ensina que não há outra maneira de vencermos senão com oração e jejum. Por isso, nesta Quaresma, intensifiquemos nossa vida de oração. Usemos dessas armas neste tempo santo.
Vem, Senhor Jesus!
Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova
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